quarta-feira, 1 de abril de 2015

As Sete Palavras de Jesus na Cruz


Contemplamos as Palavras de Jesus na Cruz,
para caminharmos dentro do Mistério de Deus, Mistério que é Amor,e que em Jesus assume a atravessa a dor, o sofrimento e o sem sentido da vida humana.
Assim, contemplando as Palavras de Jesus na Cruz
como revelação do Mistério de Deus, Mistério de Amor,queremos dar sentido a todos os momentos da nossa existência,desde o nascimento até à morte,
para nos deixarmos refazer pelo amor de Jesus,
colocando esse amor de entrega total de sua vida,
como princípio, meio e fim de nossa vida.
Também nossa vida é mistério que se revela quando se deixa revelar e assumir pelo Mistério do Amor de Deus.

(I)
“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem.”(Lc23,34)
Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como posso ser feliz se não me deres o perdão
Se teu amor não curar minhas feridas?
Como posso lembrar a escravatura e a morte dos indígenas
Sem lembrar de Ti e implorar o teu perdão?
E nossa História retrancada em ódios seculares, em perspectivas de morte?
Como tocar a vida em frente, na alegria e na liberdade, sem perdão?

E Tu abres teus braços na cruz, abraçando a Humanidade e a Criação inteira
Enquanto a multidão e o poder do mal
Se satisfaziam com dois malfeitores crucificados contigo como malfeitor.
E Tu estendes a todos o perdão, momento de abundância de amor:
“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem.”
A Tua vida foi perdão e a Tua morte foi perdão ainda maior.
Abra-se a terra ao perdão porque o céu se abriu no teu abraço dado na cruz.

O perdão é graça, é de graça, é abundância de amor, é misericórdia,
O perdão é a coragem de ser feliz,
O desapego de si mesmo, de sua imagem,
Da necessidade de valorização pessoal,
De suas mágoas e feridas.

Não estás pedindo que Te reconheçam como o Cristo,
Apenas és amor redentor, aberto e doado para todos,
Amor que desfaz todas as barreiras, amor salvação,
Caminho, verdade e vida.

Nossos infernos são muitos, nossas escuridões espalham-se por toda a terra,
Mas nossos infernos se extinguem pela tua morte e ressurreição.
Tu és perdão, acima de tudo, misericórdia e perdão.
Tu és nossa salvação.


(II)
“Hoje estarás comigo no paraíso.” (Lc 23,43)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como posso deixar morrer meu desejo de paraíso, de realização plena?
Como posso entregar às trevas o futuro da Humanidade?
Como poderei esquecer que abriste o paraíso aos malfeitores?

Tu és Deus conosco, Senhor da História
Não nos fizeste para o vazio, mas para sermos habitados de amor,
Morada do paraíso, da tua bondade, tua verdade, da tua beleza,
Da alegria do amor de Deus, Trindade Santa.

A todos abres as portas do paraíso e tu és a passagem,
Por Ti chegamos à felicidade plena.
A esperança se renova na contemplação da cruz,
Onde se esconde o teu sorriso,
Mas onde se abraçam e ganham luz as cruzes de cada um de nós.

A tua cruz, Senhor, brilha nos infernos de nossa vida
E nos mostra o outro lado onde Tu moras.
Contigo atravessamos o vazio e a frustração da morte,
Para nos abraçarmos na festa do teu Reino,
Onde tua presença sacia os pequeninos de simplicidade e bondade.

Na grande mesa da comunhão nos sentaremos,
Onde Tu és o cordeiro sem mancha, crucificado
Que tira o pecado do mundo.
O teu perdão é infinito e a todos concede o dom
De sermos livres pela eternidade.
Na tua cruz temos o perdão que nos faz filhos
No amor do Pai, na amizade do teu ser e na luz do Espírito.


(III)
“Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe.” (Jo 19,26-27)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como poderei esquecer tantas mães crucificadas na história de seus filhos?
E como não lembrarei o amor de mãe
Misericordioso e bom, dos momentos de aflição e de todos os momentos?

A tua mãe teve a graça e a aflição de ter um filho como Tu,
Independente e livre e determinado no projeto do Reino.
E ela guardava tudo no coração
E caminhava contigo nas estradas da Galileia
E na cruz desumana de tua paixão.
E na tua morte, tua mãe está aí, de pé,
Junto da tua cruz que está de pé, onde tu estás de pé.

E Tu vês seu coração suspenso e transpassado de vida que se perde no amor.

E vês também o discípulo mais jovem que te seguiu por ser amado
E os confias como mãe e filho
Para que o amor fortaleça e reúna teus discípulos perdidos.
Com Maria, nossa mãe, nós queremos gerar tua presença na História,
Para que a vida humana não feche os olhos à ternura,
À maternidade, ao carinho, à misericórdia
E tenha um coração que abriga sempre mais um.
Maria é o céu que Te abrigou e Te gerou, Te educou, Te ensinou a falar e a caminhar.
Ela Te ensinou as coisas boas do Reino
E a amares Deus Pai como Mãe.
E ela cuida de nós como cuidou de Ti,
Nos mostrando e chamando ao teu amor, medida para o nosso amor,
À tua paixão pelo Reino e ao amor misericordioso e fiel
Que opera maravilhas nos pobres e nos humildes.
Nós te louvamos, Maria, Mãe de Jesus, Mãe de Deus e nossa Mãe.
E ela nos diz: “fazei o que Ele vos disser”.


(IV)
“Tenho sede” (Jo 19,28)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como poderei sentir sede sem lembrar de Ti?
Como poderei ver as carcaças dos animais espalhadas no sertão seco,
Sem lembrar de Ti?
Como esquecerei que 1 bilhão de pessoas não têm acesso  à água potável ?

Minha sede de vida, de plenitude, de integração, de sentido de viver,
Meu ser ansioso e a caminho, desidratado e esgotado...
Tu que és água viva, um rio de água viva, Tu que sacias todas as sedes,
Morres de sede na cruz?
Teu corpo está esgotado pelo sangue e água que saíram de tuas feridas.

“Quem vem a mim, não mais terá sede”
Tu te deste todo na sede de amar,
Te esgotaste na sede de saciar a sede de vida
E de sentido de todos nós.
Estás com sede porque não te bebemos,
Porque não matamos nossas sedes em Ti.
Nossa sede de amor, procuramos outros amores,
Nossos afetos se perdem em amores perdidos,
Onde bebemos água suja,
Nossa sede de ‘ser alguém’ nos esvazia,
Porque buscamos nas coisas aquilo que só Tu nos podes dar: o ser.
Nossa sede de entrega se perde na entrega a pedaços de sentido
Porque não abraçamos o teu Reino com todas as nossas forças.

Temos sede, Tu moras em nós, fomos criados em Ti,
Gerados na sede de infinito, Tu moras dentro de nós,
Tu és nossa sede, nosso desejo, nossa condição de ser,
Nosso caminho e motivação de ser.
Vem a nós, saciar esta sede que nos mata,
Quando nos afastamos do amor e caímos no vazio.
O teu amor sacia nossa sede de ser,
Aumenta nossa sede de Ti.


(V)
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
(Mc 15,34;Mt 27,46)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como poderei sentir meus abandonos sem lembrar de Ti?
Como poderei ver os corpos de inocentes nas guerras, em pedaços, sem lembrar de Ti?
Violência e mais violência! Em cada esquina se assassina um.
Como poderei ver os olhos das crianças na fome sem lembrar de Ti?

Tu estás abandonado,
Nós te abandonamos em milhões e milhões de seres humanos,
Rostos de empobrecidos a quem fechamos o olhar, a inteligência e o coração.
Tanta ciência e tanta técnica, para quê?
Vivemos num delírio constante,
Encantados com tanto consumismo de tecnologias novas,
Enquanto abandonamos a dignidade e a vida com que fomos criados.

Sempre que nos esquecemos dos empobrecidos,
Dos exterminados da fome,
Dos massacrados das guerras,
Estamos perdendo a nossa dignidade e a nossa vida.

Tu sabes o que é o abandono, a rejeição,
o sofrimento de sofrer só,
De tantos filhos e filhas de Deus encostados em prisões e hospitais.

Como poderei esquecer teu abandono se tenho medo de morrer só?

Passaste a vida fazendo o bem,
Incendiado pelo amor e pela liberdade do Reino,
Na alegria e na fidelidade de ser no Pai
E agora és abandonado pelos teus discípulos
E rejeitado e condenado por todos.
E num grito de fé, mostras que confias no Pai
Ao atravessares o teu abandono e o sofrimento.

Caminha conosco, Jesus,
Para mergulharmos nossos abandonos no teu abandono
E no sentido da tua vida
Parapermanecermos na fidelidade ao amor
Na comunhão do Pai e do Espírito, Contigo.


(VI)
“Tudo está consumado” (Jo 19,30)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como poderei sentir que tudo está consumado se não me lembrar de Ti?
Meus projetos ficam pelo caminho,
Meus desejos se perdem em si mesmos,
Minha entrega é de uma pequena parte do meu ser,
Minha fidelidade caminha na infidelidade,
Meus medos são muitos.

E Tu estás desfeito e inteiro,
Na inteireza do Ser que se reparte na liberdade do amor
Apresentando ao Pai o amor revelado e realizado
No teu ser em pedaços e completo.

Fizeste-Te um de nós, esvaziaste-Te a ti mesmo e Te fizeste pobre,
Não tens nenhuma porção do teu ser que o amor não habite,
Fizeste o amor rebentar as barreiras das injustiças sociais e do pecado.
E agora, de braços abertos, acolhendo em Ti todas as misérias e todas as opressões
Entregas ao Pai a hora do teu amor:
Reconciliar tudo o que é criado no teu amor,
Realizado em tua vida e consumado na cruz.

Tuas vestes já tinham sido sorteadas,
Tua mãe, já a tinhas feito mãe de discípulos perdidos,
Já tinhas bebido o vinagre da escuridão
E permaneces livre, consciente e na paz da comunhão de Deus Pai.

Só por ti podemos dizer “tudo está consumado”
E continuando tua presença na História,
Estamos unidos a Ti para ser inteiros
Na entrega de tudo nas mãos de Deus, Pai e Mãe.


(VII)
“Pai, em tuas mãos, entrego o meu Espírito” (Lc 23,46)

Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.

Como poderei contemplar minha morte sem lembrar de Ti?
Como poderei consolar alguém na morte sem Ti?
Como poderei celebrar a eucaristia
Sem mergulhar as nossas vidas na tua morte
Para ressuscitar contigo?

És o Filho querido e amado do Pai,
Tua vida é o amor do Pai.
Como é fiel e amorosa a tua entrega, como é livre e desprendida,
Já estavas todo no coração do Pai,
A vida que é eterna, Tu a tinhas aqui,
Como é rica a Tua entrega.

Na morte, tudo da vida se torna um só:
Deus assume para si o que criou, nada fica fora do seu amor criador.
Quero um dia dizer contigo:
Meu Deus, me entrego todo a Ti, Pai e Mãe do meu ser,
Como um filho querido e amado.
Espero encontrar o amor feliz e amado da comunhão da Trindade,
Na entrega de minha vida efémera,
Que se faz eternidade no amor, na habitação da comunhão perfeita.

Por enquanto, vou fazendo morrer as prisões do meu egoísmo,
Para me fazer em Ti.
Desejo ser construído no teu amor, para que um dia possa dizer:
Tudo o que sou entrego a Ti, meu Deus,
Na comunhão de teu Filho muito amado e que morreu de amor.

Enquanto isso, vou olhando para Ti e pedindo:
“Jesus, tem compaixão de mim que sou pecador”
E que eu me abra dia a dia para ser refeito no teu amor
Como a árvore que cresce unindo a terra e o céu.

Na tua morte mergulhamos, para que nossas mortes tenham sentido.
Na tua morte mergulhamos, para que a fé, a esperança e o amor
Nunca se afastem de nós.

Jesus querido, só tu és a vida eterna
Fora de Ti não há vida e a morte nos mata a cada instante.
Faz-me renascer livre como num batismo
Em que a morte se transforma em vida na tua ressurreição.


Fechamento

Jesus, agora fico contigo no silêncio da morte, no teu corpo morto.
Assumo esse momento de grande transcendência,
De ruptura com a vida presente,
Para me abrir à comunhão da vida que não vemos,
Mas que sentimos e sabemos que é de amor.
O teu corpo está morto, está morto e desfigurado, frio na pedra fria,
Mas cheio de amor.

E me deitando contigo nesse momento de morte,
Eu mergulho meu ser no amor da tua morte,
Na espera silenciosa e ansiosa
Que me desafia a uma grande confiança e abandono,
Como o grão de trigo que morre para gerar vida nova.

Neste momento solene da tua vida,
Em que mergulhas na mansão dos mortos,
Assumes as escuridões de nossa vida.
Mas já se fará luz na tua ressurreição.
O teu amor e o amor do Pai e do Espírito estão em Ti,
Aquecendo todo o teu ser, para abrir a pedra desse túmulo,
No dia maravilhoso da tua ressurreição.

Que o amor da tua morte ilumine nossa vida
E nos dê a alegria de participar da vida da tua ressurreição.
A morte não é a última palavra.
Continuamos contigo para uma História nova que não termina na morte,
Mas se transcende para a reconciliação de todos os seres criados, em Ti,
Na comunhão do amor de Deus, Trindade Santa.
Pe. Zé Luís, CSh

3 comentários:

  1. Linda mensagem, que ensinamento... Gostei muito, nos faz pensar em cada momento de nossa vida, não existe um só passo que possamos dar sem que se interage com essas sete palavras.
    Parabéns Padre Zé Luis

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  2. Everson Adir Passos1 de abril de 2015 às 19:46

    Linda e singular reflexão.
    Muito obrigado Padre Zé Luis
    Abraços, Everson

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  3. A humanidade escancarada de Deus: Perdão, Convivência, Família, Necessidade, Solidão, Trabalho e Confiança. Sigamos em frente para cumprirmos a nossa missão. Feliz Páscoa!

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