para caminharmos dentro do Mistério de Deus, Mistério que
é Amor,e que em Jesus assume a atravessa a dor, o sofrimento e o sem sentido da vida humana.
Assim, contemplando as Palavras de Jesus na Cruz
como revelação do Mistério de Deus, Mistério de Amor,queremos dar sentido a todos os momentos da nossa
existência,desde o nascimento até à morte,
para nos deixarmos refazer pelo amor de Jesus,
colocando esse amor de entrega total de sua vida,
como princípio, meio e fim de nossa vida.
Também nossa vida é mistério que se revela quando se deixa revelar e assumir pelo Mistério do Amor de Deus.
“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem.”(Lc23,34)
Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como posso ser feliz se não me deres o perdão
Se teu amor não curar minhas feridas?
Como posso lembrar a escravatura e a morte dos indígenas
Sem lembrar de Ti e implorar o teu perdão?
E nossa História retrancada em ódios seculares, em
perspectivas de morte?
Como tocar a vida em frente, na alegria e na liberdade,
sem perdão?
E Tu abres teus braços na cruz, abraçando a Humanidade e
a Criação inteira
Enquanto a multidão e o poder do mal
Se satisfaziam com dois malfeitores crucificados contigo
como malfeitor.
E Tu estendes a todos o perdão, momento de abundância de
amor:
“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem.”
A Tua vida foi perdão e a Tua morte foi perdão ainda
maior.
Abra-se a terra ao perdão porque o céu se abriu no teu
abraço dado na cruz.
O perdão é graça, é de graça, é abundância de amor, é
misericórdia,
O perdão é a coragem de ser feliz,
O desapego de si mesmo, de sua imagem,
Da necessidade de valorização pessoal,
De suas mágoas e feridas.
Não estás pedindo que Te reconheçam como o Cristo,
Apenas és amor redentor, aberto e doado para todos,
Amor que desfaz todas as barreiras, amor salvação,
Caminho, verdade e vida.
Nossos infernos são muitos, nossas escuridões espalham-se
por toda a terra,
Mas nossos infernos se extinguem pela tua morte e
ressurreição.
Tu és perdão, acima de tudo, misericórdia e perdão.
Tu és nossa salvação.
(II)
“Hoje estarás comigo no paraíso.” (Lc 23,43)
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como posso deixar morrer meu desejo de paraíso, de
realização plena?
Como posso entregar às trevas o futuro da Humanidade?
Como poderei esquecer que abriste o paraíso aos
malfeitores?
Tu és Deus conosco, Senhor da História
Não nos fizeste para o vazio, mas para sermos habitados
de amor,
Morada do paraíso, da tua bondade, tua verdade, da tua
beleza,
Da alegria do amor de Deus, Trindade Santa.
A todos abres as portas do paraíso e tu és a passagem,
Por Ti chegamos à felicidade plena.
A esperança se renova na contemplação da cruz,
Onde se esconde o teu sorriso,
Mas onde se abraçam e ganham luz as cruzes de cada um de
nós.
A tua cruz, Senhor, brilha nos infernos de nossa vida
E nos mostra o outro lado onde Tu moras.
Contigo atravessamos o vazio e a frustração da morte,
Para nos abraçarmos na festa do teu Reino,
Onde tua presença sacia os pequeninos de simplicidade e
bondade.
Na grande mesa da comunhão nos sentaremos,
Onde Tu és o cordeiro sem mancha, crucificado
Que tira o pecado do mundo.
O teu perdão é infinito e a todos concede o dom
De sermos livres pela eternidade.
Na tua cruz temos o perdão que nos faz filhos
No amor do Pai, na amizade do teu ser e na luz do
Espírito.
(III)
“Mulher, eis o teu filho; filho, eis a tua mãe.” (Jo
19,26-27)
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como poderei esquecer tantas mães crucificadas na
história de seus filhos?
E como não lembrarei o amor de mãe
Misericordioso e bom, dos momentos de aflição e de todos
os momentos?
A tua mãe teve a graça e a aflição de ter um filho como
Tu,
Independente e livre e determinado no projeto do Reino.
E ela guardava tudo no coração
E caminhava contigo nas estradas da Galileia
E na cruz desumana de tua paixão.
E na tua morte, tua mãe está aí, de pé,
Junto da tua cruz que está de pé, onde tu estás de pé.
E Tu vês seu coração suspenso e transpassado de vida que
se perde no amor.
E vês também o discípulo mais jovem que te seguiu por ser
amado
E os confias como mãe e filho
Para que o amor fortaleça e reúna teus discípulos
perdidos.
Com Maria, nossa mãe, nós queremos gerar tua presença na
História,
Para que a vida humana não feche os olhos à ternura,
À maternidade, ao carinho, à misericórdia
E tenha um coração que abriga sempre mais um.
Maria é o céu que Te abrigou e Te gerou, Te educou, Te
ensinou a falar e a caminhar.
Ela Te ensinou as coisas boas do Reino
E a amares Deus Pai como Mãe.
E ela cuida de nós como cuidou de Ti,
Nos mostrando e chamando ao teu amor, medida para o nosso
amor,
À tua paixão pelo Reino e ao amor misericordioso e fiel
Que opera maravilhas nos pobres e nos humildes.
Nós te louvamos, Maria, Mãe de Jesus, Mãe de Deus e nossa
Mãe.
E ela nos diz: “fazei o que Ele vos disser”.
(IV)
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como poderei sentir sede sem lembrar de Ti?
Como poderei ver as carcaças dos animais espalhadas no
sertão seco,
Sem lembrar de Ti?
Como esquecerei que 1 bilhão de pessoas não têm
acesso à água potável ?
Minha sede de vida, de plenitude, de integração, de
sentido de viver,
Meu ser ansioso e a caminho, desidratado e esgotado...
Tu que és água viva, um rio de água viva, Tu que sacias
todas as sedes,
Morres de sede na cruz?
Teu corpo está esgotado pelo sangue e água que saíram de
tuas feridas.
“Quem vem a mim, não mais terá sede”
Tu te deste todo na sede de amar,
Te esgotaste na sede de saciar a sede de vida
E de sentido de todos nós.
Estás com sede porque não te bebemos,
Porque não matamos nossas sedes em Ti.
Nossa sede de amor, procuramos outros amores,
Nossos afetos se perdem em amores perdidos,
Onde bebemos água suja,
Nossa sede de ‘ser alguém’ nos esvazia,
Porque buscamos nas coisas aquilo que só Tu nos podes
dar: o ser.
Nossa sede de entrega se perde na entrega a pedaços de
sentido
Porque não abraçamos o teu Reino com todas as nossas
forças.
Temos sede, Tu moras em nós, fomos criados em Ti,
Gerados na sede de infinito, Tu moras dentro de nós,
Tu és nossa sede, nosso desejo, nossa condição de ser,
Nosso caminho e motivação de ser.
Vem a nós, saciar esta sede que nos mata,
Quando nos afastamos do amor e caímos no vazio.
O teu amor sacia nossa sede de ser,
Aumenta nossa sede de Ti.
(V)
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
(Mc 15,34;Mt
27,46)
Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como poderei sentir meus abandonos sem lembrar de Ti?
Como poderei ver os corpos de inocentes nas guerras, em
pedaços, sem lembrar de Ti?
Violência e mais violência! Em cada esquina se assassina
um.
Como poderei ver os olhos das crianças na fome sem
lembrar de Ti?
Tu estás abandonado,
Nós te abandonamos em milhões e milhões de seres humanos,
Rostos de empobrecidos a quem fechamos o olhar, a
inteligência e o coração.
Tanta ciência e tanta técnica, para quê?
Vivemos num delírio constante,
Encantados com tanto consumismo de tecnologias novas,
Enquanto abandonamos a dignidade e a vida com que fomos
criados.
Sempre que nos esquecemos dos empobrecidos,
Dos exterminados da fome,
Dos massacrados das guerras,
Estamos perdendo a nossa dignidade e a nossa vida.
Tu sabes o que é o abandono, a rejeição,
o sofrimento de sofrer só,
De tantos filhos e filhas de Deus encostados em prisões e
hospitais.
Como poderei esquecer teu abandono se tenho medo de
morrer só?
Passaste a vida fazendo o bem,
Incendiado pelo amor e pela liberdade do Reino,
Na alegria e na fidelidade de ser no Pai
E agora és abandonado pelos teus discípulos
E rejeitado e condenado por todos.
E num grito de fé, mostras que confias no Pai
Ao atravessares o teu abandono e o sofrimento.
Caminha conosco, Jesus,
Para mergulharmos nossos abandonos no teu abandono
E no sentido da tua vida
Parapermanecermos na fidelidade ao amor
Na comunhão do Pai e do Espírito, Contigo.
(VI)
“Tudo está consumado” (Jo 19,30)
Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como poderei sentir que tudo está consumado se não me lembrar
de Ti?
Meus projetos ficam pelo caminho,
Meus desejos se perdem em si mesmos,
Minha entrega é de uma pequena parte do meu ser,
Minha fidelidade caminha na infidelidade,
Meus medos são muitos.
E Tu estás desfeito e inteiro,
Na inteireza do Ser que se reparte na liberdade do amor
Apresentando ao Pai o amor revelado e realizado
No teu ser em pedaços e completo.
Fizeste-Te um de nós, esvaziaste-Te a ti mesmo e Te
fizeste pobre,
Não tens nenhuma porção do teu ser que o amor não habite,
Fizeste o amor rebentar as barreiras das injustiças
sociais e do pecado.
E agora, de braços abertos, acolhendo em Ti todas as
misérias e todas as opressões
Entregas ao Pai a hora do teu amor:
Reconciliar tudo o que é criado no teu amor,
Realizado em tua vida e consumado na cruz.
Tuas vestes já tinham sido sorteadas,
Tua mãe, já a tinhas feito mãe de discípulos perdidos,
Já tinhas bebido o vinagre da escuridão
E permaneces livre, consciente e na paz da comunhão de
Deus Pai.
Só por ti podemos dizer “tudo está consumado”
E continuando tua presença na História,
Estamos unidos a Ti para ser inteiros
Na entrega de tudo nas mãos de Deus, Pai e Mãe.
(VII)
“Pai, em tuas mãos, entrego o meu Espírito”
(Lc 23,46)
Quando a tua vida atravessou a minha vida
E eu senti a minha morte na tua morte
Percebi que a vida tem um sentido só: a tua vida.
Como poderei contemplar minha morte sem lembrar de Ti?
Como poderei consolar alguém na morte sem Ti?
Como poderei celebrar a eucaristia
Sem mergulhar as nossas vidas na tua morte
Para ressuscitar contigo?
És o Filho querido e amado do Pai,
Tua vida é o amor do Pai.
Como é fiel e amorosa a tua entrega, como é livre e
desprendida,
Já estavas todo no coração do Pai,
A vida que é eterna, Tu a tinhas aqui,
Como é rica a Tua entrega.
Na morte, tudo da vida se torna um só:
Deus assume para si o que criou, nada fica fora do seu
amor criador.
Quero um dia dizer contigo:
Meu Deus, me entrego todo a Ti, Pai e Mãe do meu ser,
Como um filho querido e amado.
Espero encontrar o amor feliz e amado da comunhão da
Trindade,
Na entrega de minha vida efémera,
Que se faz eternidade no amor, na habitação da comunhão
perfeita.
Por enquanto, vou fazendo morrer as prisões do meu
egoísmo,
Para me fazer em Ti.
Desejo ser construído no teu amor, para que um dia possa
dizer:
Tudo o que sou entrego a Ti, meu Deus,
Na comunhão de teu Filho muito amado e que morreu de
amor.
Enquanto isso, vou olhando para Ti e pedindo:
“Jesus, tem compaixão de mim que sou pecador”
E que eu me abra dia a dia para ser refeito no teu amor
Como a árvore que cresce unindo a terra e o céu.
Na tua morte mergulhamos, para que nossas mortes tenham
sentido.
Na tua morte mergulhamos, para que a fé, a esperança e o
amor
Nunca se afastem de nós.
Jesus querido, só tu és a vida eterna
Fora de Ti não há vida e a morte nos mata a cada
instante.
Faz-me renascer livre como num batismo
Em que a morte se transforma em vida na tua ressurreição.
Fechamento
Assumo esse momento de grande transcendência,
De ruptura com a vida presente,
Para me abrir à comunhão da vida que não vemos,
Mas que sentimos e sabemos que é de amor.
O teu corpo está morto, está morto e desfigurado, frio na
pedra fria,
Mas cheio de amor.
E me deitando contigo nesse momento de morte,
Eu mergulho meu ser no amor da tua morte,
Na espera silenciosa e ansiosa
Que me desafia a uma grande confiança e abandono,
Como o grão de trigo que morre para gerar vida nova.
Neste momento solene da tua vida,
Em que mergulhas na mansão dos mortos,
Assumes as escuridões de nossa vida.
Mas já se fará luz na tua ressurreição.
O teu amor e o amor do Pai e do Espírito estão em Ti,
Aquecendo todo o teu ser, para abrir a pedra desse
túmulo,
No dia maravilhoso da tua ressurreição.
Que o amor da tua morte ilumine nossa vida
E nos dê a alegria de participar da vida da tua
ressurreição.
A morte não é a última palavra.
Continuamos contigo para uma História nova que não
termina na morte,
Mas se transcende para a reconciliação de todos os seres
criados, em Ti,
Na comunhão do amor de Deus, Trindade Santa.
Pe. Zé Luís, CSh
Linda mensagem, que ensinamento... Gostei muito, nos faz pensar em cada momento de nossa vida, não existe um só passo que possamos dar sem que se interage com essas sete palavras.
ResponderExcluirParabéns Padre Zé Luis
Linda e singular reflexão.
ResponderExcluirMuito obrigado Padre Zé Luis
Abraços, Everson
A humanidade escancarada de Deus: Perdão, Convivência, Família, Necessidade, Solidão, Trabalho e Confiança. Sigamos em frente para cumprirmos a nossa missão. Feliz Páscoa!
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