Pelas 6 horas, o sol ainda espreguiçando e escorrendo sobre os telhados, reunimo-nos na Praça de Nossa Senhora do Rosário (Melo Viana), aquela da igreja inacabada dos escravos, (1713), de paredes nuas e fortes, de pedra, em Sabará.
Descemos a D. Pedro II, histórica e bela, como num rio de 300 anos de memória.
Atravessamos o rio Sabará. Estavamos na estrada real, com destino a Raposos. 16 km a pé. 52 pessoas.
O caminhar faz parte da essência humana. Somos caminho e caminhar.
Logo chegamos ao Arraial Velho, pela margem direita do Rio das Velhas. Muros de pedra, rústicos, e a igreja de Santana, meados do século XVIII.
Uma grande subida nos esperava, numa estrada de pó. “Lembra-te que és pó”. Montanha, pedra e pó. A serenidade da montanha, a dureza das pedras, a fluidez do pó. Horizontes de Minas. Serrado e pequenos trechos de mata atlântica.
Chegamos à Fazenda dos Cristais. Um ipê amarelo na porteira, cavalos, cachorros e o cheiro da criação. A casa antiga, colonial. Precisavamos de uma parada em nossas raizes. A fazenda tem o cheiro do queijo e o gosto do café, o calor do fogão de lenha e a mesa grande. De chapéu até às orelhas, o Sr. Walter nos recebeu, um mineiro sem fingimento, acolhedor, sereno, contemplativo.
E descemos numa trilha, na mata siliar, até encontrar um córrego silencioso e límpido, deitado para nos refrescar os olhos e os pés.
E, na subida, encontramos um certificado da pureza do ar: uma espécie de líquem vermelho, nas árvores, tão vivo, parecia pintura. A água, as árvores, a terra, o ar, um mini ecossistema de pureza, quem o encontrará?
E, quase logo, retomávamos a estrada de poeira que, por sorte, não subia do nível dos pés. E na margem esquerda da estrada, ainda sobrevivem, de pé, as ruinas de uma estalagem dos tropeiros. De novo as pedras teimando ficar de pé, memórias de um tempo que se foi. Tudo passa, “não ficará pedra sobre pedra”. Permanece a essência da vida, o amor que penetra a História e a faz ser uma só, História onde Deus mora. E, mais uma vez, nos confrontamos com a realidade do caminho: o provisório dos meios, a beleza e a permanência dos valores, bondade e verdade, que fazem o caminho infinito. O que seria de cada um sem a essência divina que percorre a nossa vida?
A paisagem é mineira. As flores silvestres nos espreitam. A contemplação de horizontes é constante. Em vários momentos apetece voar para dar um mergulho no verde.
E no Riacho Brumado, descalçamos os pés para atravessar a água cristalina e fria. Um lava pés generoso que renova as forças do caminheiro. Como viver e ser feliz sem a liberdade do amor-serviço, que constantemente nos é oferecido e que sempre somos chamados a viver?
Resgatados pela generosidade desta fonte, subimos mais um chão de terra em pó, para avistar e descer Raposos, primeira freguesia de Minas, (1690) Igreja de Nossa Senhora da Conceição, onde celebramos a eucaristia deste e de todos os caminhos de bem.
A caminhada é uma trilha de reconciliação da humanidade com a terra.
Se quiseres ganhar um amigo, caminha com ele.
Felizes os que caminham.
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